Sociedade maçuda

27.4.08

Seria melhor achar nada?
Pensar tudo?
Engolir pralarvas?
Sapecar sapos?
Ser O um dos uns.
Vestir o uniforme e ser uni-forme-mente
massante.

Observ.ação¹: Lendo compulsivamente
Fabio Rocha, minha inspiração – até agora.
Observ.ação²: Que diabos! Esse tempo insiste em me apressar! Assim que acabar a maratona, vou comentar nos blogs dos senhores, podexá! :D

Vers.o.s russos

15.4.08

Sábado, ao folhear alguns livros na livraria, eu me deparei com Vladimir Maiakóvski em obra.
Tinha lido um poema dele há poucos dias, gostei muito da forma como ele tece os versos: objetivo, boa sonoridade, disposição de palavras bem delineada. As palavras transpiram melancolia, revolução. História.
O maior poeta russo da vaguarda futurista viveu e participou da
Revolução de Outubro. Tinha especial apreço pelo ideário socialista, tanto que se associou ao Partido Bolchevique aos quinze anos (!).
Mas independente de seu passado político, Maiakóvski merece ser lido – e refletido.
Aí vai uma amostrinha poética pra você, caro leitor:)

E Então Que Quereis?...

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

Outro poema, só que este é
Eduardo Alves da Costa, poeta brasileiro que compreendeu – e muito bem - o espírito de Maiakóvski.

No Caminho, com Maiakóvski

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!



(Já deu pra perceber, estou num momento 'rebelde-revolucionário-revoltoso-amotinado-aporrinhador'.
Ler textos de História Contemporânea dá nisso.)